Lazer ou Poder? Eis a questão...

Obra da prefeitura sendo executada na frente da Ponta do Coral. (Foto: R.)

Há muito tempo existe um impasse sobre o que fazer na Ponta do Coral, em Florianópolis. Como é área de marinha, a área pertence(ria) à União e é de domínio público de acordo com a legislação federal. Infelizmente, no final da ditadura militar, a área da Ponta do Coral foi irregularmente vendida a um grupo empresarial. E, desde então, acirra-se o debate em torno de diferentes perspectivas: proporcionar o lazer à população em área verde e costeira ou privilegiar o poder econômico de uma construtora em um mega projeto hoteleiro?

O prefeito...

Onde entra nosso querido prefeito nisso tudo? Durante a sua campanha, em 2012, ele se disse contra o projeto. Contudo, ontem, a prefeitura deu sinal verde à construtora para aterrar tudo.

Ele disse...

"Gente, vamos falar a verdade. Um prédio de 22 andares com 600 apartamentos, mais shopping, mais centro de eventos, mais estacionamento para mil carros, aqui, neste ponto. Você acha que dá? Eu tenho certeza que não. Se fosse só a marina, ou um projeto menor, mais humano, com mais áreas públicas, quem sabe. Mas, desse tamanho, nesse ponto que já está estrangulado, me desculpe. Nenhum administrador de bom senso pode apoiar". 

O que houve?

Será que acabou o bom senso do prefeito? Talvez, mas precisamos analisar a fala do então candidato com mais atenção. Ao fazê-lo, percebe-se que o cerne de sua crítica ao projeto é basicamente o tamanho e o congestionamento de trânsito que aquele iria provocar. O então candidato não reivindica a área para o lazer da população e muito menos apresenta um contra-projeto, ele apenas diz que daquele tamanho não dá. Em outras palavras, o então candidato não se posicionou categoricamente, conseguindo capitalizar em cima do eleitorado, e ainda deixou a porta aberta para a negociação com a construtora.

Redução 

É importante dizer que houve sim uma redução do projeto originalmente apresentado. Em matéria de junho de 2014 no Diário Catarinense, lê-se: "Menos arrojado e com edificações mais tímidas do que a proposta inicial, o projeto agora prevê um prédio de 18 andares, sem a marina e sem as áreas públicas de lazer que seriam instaladas no aterro de 33 mil m²."
Contudo, notemos que, entre outras alterações, as áreas de lazer foram eliminadas do novo projeto. Justamente as áreas de lazer!  E olha que no Plano Diretor, aprovado no ano passado, está escrito no artigo 4°: "A ocupação do território e o desenvolvimento urbano devem atender ao interesse geral da sociedade, sendo princípio elementar que o uso do espaço geográfico tem por finalidade maior promover a qualidade de vida, a integração social e o bem-estar dos cidadãos."

E agora, José?

Para a construção poder começar, a Fatma ainda tem que liberar o projeto. Contudo, penso cá com meus botonx (tentativa de manezês) que se a Hantei dobra um prefeito, pode dobrar a Fatma também. Acho que é possível lutar contra esse projeto e marcar um ato de protesto. E os movimentos sociais podem também incorporar essa questão em suas palavras de ordem e reivindicaçonx (manezês de novo). E, se não estiver a fim de sair às ruas, pelo menos você pode compartilhar esse post nas redes sociais e/ou se pronunciar contra o mega hotel na Ponta do Coral.

Para saber mais...

Assista ao especial da Rádio Campeche com o Arquiteto Loureci Ribeiro.
Leia "Pelo Parque das Três Pontas", de Elaine tavares.
Assista ao vídeo feito pelos estudantes de Comunicação da UFSC na década de 80.

Curiosidades...

A obra da foto realmente pertence ao Anel viário anunciado pela Prefeitura no dia 24 de janeiro deste ano. O prefeito anunciou a obra do Anel Viário em resposta ao Terceiro Ato Contra o Aumento da Tarifa, quando manifestantes pintaram a primeira faixa exclusiva de ônibus em Floripa na avenida Beira Hotel...quer dizer.. Beira Mar. Só que, como os próprios manifestantes demonstraram, não é preciso ampliar a avenida para se ter a faixa exclusiva de ônibus. O anel viário no papel parece ser interessante, mas o risco é de se tornar mais um elefante branco em Florianópolis, assim como a nossa querida ponte Hercílio Luz. A construção do anel está orçada em R$70 milhões e deve durar 3 anos.
Mas é no mínimo curioso que as obras do Anel Viário iniciem justamente em frente à Ponta do Coral e poucos dias antes da liberação pela Prefeitura da construção do mega hotel. Seria tudo uma grande coincidência?
(Foto: R.)

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