As Últimas Horas de Che Guevara. The Last Hours of Che Guevara. Las Ultimas Horas del Che Guevara


As Últimas Horas de Che Guevara

Hoje escrevo aqui sobre um dos filmes que pretendo incluir na minha tese de doutorado. Pesquiso,  desde 2015, filmes ficcionais e documentários que se relacionam de alguma forma a Che Guevara. Para quem tem interesse, minha dissertação de mestrado está disponível em inglês. Continuo pesquisando sobre Che Guevara e filmes no doutorado, mas agora com um escopo um pouco maior e com uma perspectiva mais contemporânea.
Na busca por filmes a incluir na minha pesquisa, achei o filme As Últimas Horas de Che Guevara. É um longa metragem (cerca de 1 hora e quarenta e seis minutos) em que assistimos a Che Guevara, interpretado pelo ator Karlos Granada, mantido preso na pequena escola de La Higuera, aguardando ser fuzilado pelo exército Boliviano. É um filme bem peculiar. Em primeiro lugar, por consistir basicamente de um monólogo - não conheço nenhum outro filme de Che Guevara que seja parecido. Além disso, o monólogo, entrecortado pela respiração asmática de Che, cria um efeito dramático intenso e a sensação de extensão ou mesmo suspensão do tempo - como se estivéssemos na terra de ninguém, na fronteira não demarcada entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
A cor do filme, em sépia, contribui para a intensidade dramática ao acentuar os contrastes. Ao mesmo tempo, a cor cria um distanciamento histórico, como se estivéssemos a voltar no tempo ou se de alguma forma mágica estivéssemos de fato naquela fatídica escola em la Higuera naquele fatídico dia de forma a sermos confidentes de ninguém menos do que Che Guevara. Nesse sentido, por ter quase duas horas de duração, o tempo da narração se aproxima do tempo dos eventos narrados, coisa incomum em filmes e outras narrativas. Isso, mais o distanciamento histórico provocado pela cor sépia, dão ao filme um certo ar documental, ainda que seja um filme ficcional.
Como classificar esse filme que recusa classificações? Seria sim uma cinebiografia, afinal, é um filme ficcional sobre a vida de um personagem histórico famoso. Mas não é uma típica cinebiografia por se basear quase completamente em um monólogo, de forma que o enredo do filme não corresponde à fórmula de um herói resolvendo um conflito. Não estou dizendo que o Che Guevara do filme não apresente conflitos, pelo contrário, ele verbaliza diversas coisas que o inquietam. E são essas inquietações que tornam o filme especial, do ponto de vista político e da questão da memória.
Não vou dar spoiler. Vou me limitar a dizer que é um filme que todo pesquisador e todo entusiasta de Che Guevara deve assistir. Para mais informações sobre o filme, acesse a página do filme no IMDB. O filme é em Espanhol com legendas em Inglês.

Palavras-chave: Che Guevara; Cinema; Memória

The Last Hours of Che Guevara


Today, I decided to write about one movie I intend to include in my PhD dissertation. Since 2015, I have been researching about fictional and non-fictional films somehow related to Che Guevara. For those interested in the subject, my Master Thesis is available in English. I continue to study about Che films as a PhD student, but now I have a broader scope and a more contemporary approach.
When I was searching for films to include in my research, I came across The Last Hours of Che Guevara. For approximately one hour and fourty six minutes, we watch Che Guevara, played by actor Karlos Granada, during the last hours of his life, as he awaits in the school room in La Higuera to be executed by the Bolivian Army. It is a one-of-a-kind movie. First of all, most of the movie is basically a monologue -  I do not know any other Che film that is similar. The monologue, which is punctuated by Che's asthmatic breathing, creates an intense dramatic effect as well as the extension or even suspension of time - as if we were in No Man's Land, in the unmarked border between the realms of the living and of the dead.
The film's color, sepia, contributes to the dramatic effect by emphasizing the contrast. At the same time, it creates a certain historic distance, as if we were transported back in time or magically had had access to that ominous school room in La Higuera on that ominous day to be confidants of Che Guevara.  Accordingly, since the movie lasts for almost two hours, narration time is close to the time of the narrated events, something that is not very common in films and other forms of narrative. As a result, the film has a certain air of a documentary, although it is fictional.
How to classify a movie that resists classification? It is a biopic since it is a fictional film about a famous historical individual. But it is not the typical biopic because it escapes the hero-solves-problem formula. But, please, do not get me wrong here. Rather than saying that Che does not present conflicts in the film, I am actually saying that Che speaks about many things that trouble him and it is precisely that feeling of restlessness that makes this film special regarding the issues of politics and of memory.
But there is no need for a spoiler alert. I will only say that this is a must watch film for every researcher and enthusiast of Che Guevara. For more information about the film, please visit its IMDB webpage. The film is in Spanish but it has English subtitles.

Keywords: Che Guevara; Film; Memory

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

História oficial e histórias "anônimas"

A primeira entrevista a gente nunca esquece

O jogo da morte?