Poema: Amnésia Coletiva
Amnésia
coletiva (2018)
Olegario da Costa Maya Neto
Passo os olhos pela manchete
E me sinto assombrado
Pelo nosso passado
Será que a história se repete?
Antes eram coronéis e barões,
Chicotes, escravos e grilhões,
Hoje são as corporações
Que fazem nossas as suas decisões.
Abro o livro de História do Brasil
E me pergunto: onde estará a memória
Desse meu povo outrora revolto? Sumiu
Perdida nas esquinas da história.
Um povo sem história não é.
Apenas um grupo de indivíduos
Distraídos e desiludidos
Que caminham sem mover o pé.
Escrevi esse poema há alguns meses, nesse ano que marcou tantos retrocessos. Creio que não preciso enumerar aqui o óbvio, para isso bastam as retrospectivas do jornalismo burguês. Mas esse poema, ao mesmo tempo que era a expressão das ansiedades que inquietavam este poeta em um certo momento, também carrega um ar profético, pois, algum pouco tempo depois de escrevê-lo, recebi a notícia do incêndio do Museu Nacional. O que poderia ser mais emblemático para uma "amnésia coletiva" do que a incineração do nosso principal museu? E o que poderia ser mais irônico do que a promessa de 55 milhões de reais para a "reconstrução" do prédio, o mesmo que a negligência sistemática do Estado e da sociedade brasileiros deixou arder? Por que não se gastou esse dinheiro antes? Antes de que ardessem os artefatos que, ainda que enjaulados e retirados de seus contextos originários, carregavam em si o potencial de rememoração! Para além da hipocrisia, tendo sido boa parte do acervo destruída, agora o museu não provoca mais o mesmo temor de rememoração, pois lembrar em uma terra de amnésia coletiva forçada é muito perigoso. Sinto que esse poema irá se tornar ainda mais profético nos anos vindouros.
(Esse poema é de minha autoria e não autorizo a sua reprodução).
Palavras-chave: Poema; Amnésia Coletiva; Memória; História
Palavras-chave: Poema; Amnésia Coletiva; Memória; História
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