Nova Iorque
Recentemente estive em Nova Iorque. Fui para lá para trabalhar e fiquei lá aproximadamente 2 semanas. E tudo que posso dizer é que foi uma experiêcia ao mesmo tempo fascinante e humilhante. Nova Iorque é autoexplicativa para aqueles que se dispõem a conhecê-la mais de perto. Com cinco grandes regiões(Queens, Brooklyn, Manhattan, Harlem, Bronx), há um volume inesgotável de culinária, costumes diferentes, peças de teatro, museus, galerias de arte e prédios famosos. Para quem chega em NYC, tudo tem um ar dúbio em nenhum outro lugar tão chocante: quando um indivíduo vê um yellow cab pela primeira vez, por exemplo, provavelmente ele já viu centenas de yellow cabs no cinema, no youtube, na tevê...etc. Portanto, ele de certa forma conhece os yellow cabs de NYC. Mas, por outro lado, ele nunca viu um desses taxis realmente, até então apenas como uma imagem projetada artificialmente em sua retina. Portanto, apesar de tê-los visto centenas de vezes, agora é também a primeira vez que ele o vê. É exatamente essa a sensação que atordoa àquele que chega a NYC.
E mesmo para um nova-iorquino, ou alguém que morou certo tempo em NYC, a distância física de NYC parece nunca romper um certo laço invisível com a cidade, já que de tempos em tempos se esbarra com um filme que retrata NY, como o recente I AM LEGEND, por exemplo. Até em clássicos, como um mero romance de 1939, MADE FOR EACH OTHER, lá está NYC com sua noite sombria, multidões de transeuntes e simpatia forçada. Bem, aqui chegamos ao ponto desagradável. As pessoas são muito duras, muitas vezes até rudes. Quando não rudes, paira uma simpatia tão forçada, tão artificial, que fica claro a antipatia por trás das palavras. Para quem chega e tenta se estabelecer na cidade, isso é ainda mais difícil, pois ainda há outros problemas como a dificuldade de conseguir emprego, o frio intenso no inverno, a procura por um lugar decente para morar que dê para pagar, e a auto-estima arranhada de todo imigrante que fala ingles com sotaque (ou, muito comum, que pouco sabe de inglês e sente-se discriminado toda vez que um grupo de pessoas começa a sorrir e olhar desdenhosamente para ele).
Mas não é apenas preconceito dos nova-iorquinos a quem tenta se estabelecer. É mais do que isso. Toda vez que um atendente da Greyhound te chama de filha-da-puta no balcão de embarque do terminal de ônibus, só porque você demorou 5 segundos a mais para se comunicar, ele na verdade está expressando um misto de raiva por morar longe, pegar metro todo dia, conviver com tráfego e violência, ter um emprego de merda, comer mal e se sentir infeliz e, de certa forma, uma invejazinha por você estar indo embora para outra cidade mais confortável, enquanto ele continuará em sua rotina miserável de nova-iorquino. Não se engane, NYC é amistosa aos turistas, a todos aqueles manés com sotaque alienígena que descem dos táxis e inundam as ruas, todos com suas câmeras dependuradas no pescoço e excitação característica de visitante. É novidade para quebrar a rotina, é também dinheiro que entra na cidade. E, se tem algo que faz qualquer nova-iorquino feliz, é com certeza ganhar dinheiro. Não que outros citadinos não adulem o dinheiro, é claro que sim, mas não com o mesmo fervor e mesma intensidade. É uma cidade onde não apenas ladrões ocasionais podem arrancar-lhe a bolsa ou a pochete, mas todo mundo, literalmente, todo mundo te assalta se você der moleza: do dono do mercadinho da esquina, ao colega de trabalho, passando pelo gerente e pelos pedintes profissionais.
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