Algumas observações sobre a Crise

Há algumas semanas, fomos surpreendidos por uma queda desenfreada das bolsas ao redor do mundo, começando com Dow Jones. O mundo assistiu estarrecido ao despencar sem fim do preço de ações de muitas empresas. Desde então, todos os dias há matérias nos jornais falando sobre a crise, apresentando entrevistas de economistas, interpretações sobre as medidas que os governos tomaram e expectativas.

Contudo, tentam nos vender a idéia de que essa crise foi repentina, praticamente sem aviso prévio. Isso é uma mentira. Ao observar alguns fatos nos últimos 8 ou 10 anos podemos ver que a euforia em torno da globalização político-comercial e financeira está chegando ao fim.

Partindo da própria "crise financeira", ao consultar o banco de dados dos jornais podemos encontrar alguns fatos de suma importância, como a euforia ao redor dos investimentos imobiliários entre 2000 e 2004(ver cronograma completo da "crise financeira" em http://www.estadao.com.br/economia/not_eco250292,0.htm ), a abertura de capital de inúmeras empresas nas bolsas de valores nos últimos cinco anos(ver matéria da Exame edição 0923, de 24 de julho de 2008 sobre as condições inadequadas em que essas aberturas foram realizadas e a queda no valor das ações para aquém do patamar de abertura), a "crise dos alimentos" nos últimos anos com a disparada do preço de commodities(além de alimentos, minérios como ferro e outros, e petróleo), assim como a "crise argentina"(1998-2002), a "crise asiática"(1997-1998) e a "bolha da internet"(2001). Além disso, no primeiro semestre autoridades do mundo financeiro falaram de uma "tendência internacional de inflação". Ora, como podem todos esses fatores serem estanhos uns aos outros?

Como podemos ver, o primeiro mito é achar que há várias crises independentes. O segundo, conseqüência lógica do primeiro equívoco, é achar que a "crise" teve início na semana passada.

Voltaremos a abordar a crise nesse blog.

Comentários

Anônimo disse…
Estou aqui para comentar que infelizmente é uma crise do sistema financeiro e como bem dito, não começõu semana passada nem tampouco a um mês atrás.
Para quem entende um pouco de economia sabe que a economia funciona em ciclos e dado o caso concreto(esta crise) é resultado de um processo cíclico dado pelas expectativas dos agentes frente a atuação dos grandes players financeiros.

Desta forma, o que se tem de concreto e real é que resultado de um processo cíclico chega-se ao auge e tende ao declínio, algo natural dos mercados, algo esperado porém não prevísivel no tempo em que chega-se o momento dos ajustes dos mercados, o que ocorre na atual conjuntura, ou seja, uma liquidação quase que total dos ativos com o intuito de se reduzir ao máximo os riscos.

Com isso, a crise atual nada mais é do que o estouro de uma bolha, todas as bolhas são pontos fora do equilíbrio economico, assim as forças de mercado tende a levar os preços básicos da economia para este ponto de equilibrio, isto não ocorre hoje, nem tampouco é algo que ocorreu apenas em 1929, é algo que vem ocorrendo desde da especulação das Tulipas no século XVII na Holanda, quando está era a potência financeira mundial. O que remete que seguramente a próxima crise financeira com certeza não será baseada nos subprime, mas com certeza haverá uam próxima crise no sistema financeiro, basta tentarmos identificar quando...

Baseado em tudo isto, o que se deve de fato prestar atenção são nas medidas de prevenção o Estado pretende tomar, pois um grande risco é o da grande regulação financeira sobre os mercados, na qual origina um grande problema que é o risco de o sistema financeiro ficar engessado e perder sua capacidade inovativa deixando de alocar recursos com maior eficiência do que a atual, isto porque o sistema financeiro possui muito mais capacidade de recrutar talentos do que o Estado, sendo este Sistema financeiro fortemente regulado tais talentos deixam de ter capacidade inovativa e se piora as condições, aumenta-se os custos e gera uma maior dificuldade na tomada de recursos tanto para produção como para financiamento ao setor privado.

Vale a pena atentar-se no pós-crise pois esta já aconteceu e a próxima irá acontecer, cabe analisarmos as medidas que são tomadas e como estas geram expectativas nos agentes.
Anônimo disse…
Com certeza as crises estão conectadas com o comportamente mais geral do capitalismo que é ciclíco. Onde as crises são determinadas pelo comportamento decrescente como tendência da taxa de lucros (coisa que a grande mídia não fala).

Além do mais demonstra a completa falência não só do discurso neoliberal de não intervenção na economia (algo que nunca ocorreu de fato), mas do próprio modo de produção capitalista como potencializador das forças produtivas.

Essa crise atual, que já tem reflexos desigualmente desenvolvidos no mundo todo porém de uma forma combinada, vai ser combustível para mais acirramentos da luta de classes na medida em que aumenta as privações da classe trabalhadora, tanto em países do centro quanto da periferia.

Postagens mais visitadas deste blog

História oficial e histórias "anônimas"

A primeira entrevista a gente nunca esquece

O jogo da morte?