Espectros que nos assombram
Acabei de ler um artigo muito apropriado de Juan Arias entitulado "Marielle assombra Flávio Bolsonaro mais morta do que viva". Arias avalia as reviravoltas do caso Flávio Bolsonaro com a recente denúncia de que o então deputado empregava em seu gabinete a mulher a e filha do suposto assassino de Marielle Franco, o ex-capitão do BOPE (e atualmente foragido) Adriano Magalhães da Nóbrega. Adriano é apontado pelas investigações como um dos cabeças da milícia Escritório do Crime, um dos mais poderosos do Rio. Marielle, além de mulher, negra, lésbica e socialista, havia estudado a questão da segurança pública no Rio em seu mestrado e enfrentava as milícias enquanto vereadora.
Arias está certíssimo na proposição do título de seu artigo, mas gostaria de complementar que Marielle não assombra apenas Flávio Bolsonaro (e a quem votou no clã), mas que a imagem dela, que clama por justiça do além, assombra a todos nós. Afinal, o Brasil é campeão de assassinatos de lideranças de movimentos sociais, sejam eles do campo ou da cidade. O espectro de Marielle se soma, portanto, a uma procissão, a um cortejo, dos que lutaram por diversas causas sociais e, justamente por terem incomodado os poderosos, foram assassinados. Para citar outros casos famosos, temos o assassinato de Dorothy Stang em 2005, o de Chico Mendes em 1988, o de Marçal Guarani, em 1983.
Por ser um povo "desmemoriado", que sofre de uma amnésia coletiva, estimulada pelas elites, um povo que acha que conhecer a própria história serve para nada, somos especialmente assombrados por esses espectros, dos que lutaram e pagaram com a própria vida, num imperativo de memória e de justiça. Memória porque deixar cair no esquecimento o sacrifício de tantas pessoas seria em si um absurdo, mas também porque recordar os que tombaram é compreender a necessidade das lutas de hoje. Justiça porque as instituições burguesas estão, via de regra, do lado dos mais fortes, das corporações, dos bancos, dos latifundiários, dos milicianos...
É nesse sentido que a escultura do artista Jonas Corrêa, denominada "Injustiça", denuncia a venda sobre os olhos da deusa Themis, cegando-a para as questões sociais enquanto seu pé e sua espada fazem novas vítimas entre os famélicos da terra, ao invés de ir atrás dos poderosos. A escultura está instalada no centro histórico de Cuiabá, próximo ao Palácio da Instrução (prédio no estilo colonial) e à Igreja Matriz.
Palavras-chave: Memória; Espectros; Injustiça
Arias está certíssimo na proposição do título de seu artigo, mas gostaria de complementar que Marielle não assombra apenas Flávio Bolsonaro (e a quem votou no clã), mas que a imagem dela, que clama por justiça do além, assombra a todos nós. Afinal, o Brasil é campeão de assassinatos de lideranças de movimentos sociais, sejam eles do campo ou da cidade. O espectro de Marielle se soma, portanto, a uma procissão, a um cortejo, dos que lutaram por diversas causas sociais e, justamente por terem incomodado os poderosos, foram assassinados. Para citar outros casos famosos, temos o assassinato de Dorothy Stang em 2005, o de Chico Mendes em 1988, o de Marçal Guarani, em 1983.
Por ser um povo "desmemoriado", que sofre de uma amnésia coletiva, estimulada pelas elites, um povo que acha que conhecer a própria história serve para nada, somos especialmente assombrados por esses espectros, dos que lutaram e pagaram com a própria vida, num imperativo de memória e de justiça. Memória porque deixar cair no esquecimento o sacrifício de tantas pessoas seria em si um absurdo, mas também porque recordar os que tombaram é compreender a necessidade das lutas de hoje. Justiça porque as instituições burguesas estão, via de regra, do lado dos mais fortes, das corporações, dos bancos, dos latifundiários, dos milicianos...
É nesse sentido que a escultura do artista Jonas Corrêa, denominada "Injustiça", denuncia a venda sobre os olhos da deusa Themis, cegando-a para as questões sociais enquanto seu pé e sua espada fazem novas vítimas entre os famélicos da terra, ao invés de ir atrás dos poderosos. A escultura está instalada no centro histórico de Cuiabá, próximo ao Palácio da Instrução (prédio no estilo colonial) e à Igreja Matriz.
Palavras-chave: Memória; Espectros; Injustiça
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