Sinônimos e Antônimos n.2
Periódico quinzenal de variedades – n.02, 15 de fevereiro de 2009
Fatos importantes da semana
Chávez vence o referendo constitucional e se lança candidato às eleições de 2012; Meu pai fez 80 anos!!! Parabéns, velinho!
A bala que saiu pela culatra
“É impossível evitar guerras. Pode-se, contudo, adiá-las em benefício alheio”, Maquiavel. É assim que “Revolver”, um intrigante filme do diretor Guy Ritchie começa. Na prateleira da loja, você pode não dar muito por esse filme. Mas além de ótimas interpretações(Jason Statham, Ray Liotta, Vincent Pastore), você será surpreendido de uma maneira que nem imagina. O personagem principal, o jogador Jake Green, enfrenta poderosos inimigos depois de sair da prisão. À medida que a trama se desenrola, entretanto, Jake pecebe que o verdadeiro inimigo é o seu ego. Ao dominá-lo, ao invés de ser dominado por ele, Jake vence seu oponente real sem ao menos enfrentá-lo.
Além de uma brilhante amostra da obra de Ritchie(“Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, “Snatch: Porcos e Diamantes”), o filme nos conduz a uma reflexão profunda. Apesar de ter sido lançado em 2005, ele é completamente verossímil com a realidade crítica de 2008 e 2009.
Depois da simbólica queda do Muro de Berlim, o capitalismo estadunidense se consolidou como modelo único. Se já éramos influenciados pelas marcas, valores e interesses das grandes corporações, a partir de tal ponto paramos de opor qualquer resistência. E, dessa forma, paramos também de questionar e aprender sobre nós mesmos. Nos últimos 19 anos, retrocedemos a passos largos no caminho do auto-conhecimento. Logicamente, quando nos perdemos completamente, entramos em crise.
Segundo a Psicanálise, o ego é a parte consciente da psique que media os instintos e as necessidades sociais. Além disso, o ego influencia a percepção e a adaptação à realidade.
À medida que alimentamos ilimitadamente os interesses mais esdrúxulos de nossos egos, mais nosso julgamento racional passa a ser influenciado. Quando nossos instintos mais primitivos de competição são nutridos por ambições sociais, temos um super-ego que passa a consumir nossas vidas e nos transforma em inimigos mútuos. Dizendo de outra forma, quando a sustentação econômica da sociedade passa a depender completamente da ambição desproporcional de enriquecer à custa dos outros, a sociedade entra em colapso.
Essa situação não foi inaugurada há 19 anos, é claro, mas foi desde então que paramos de opor-lhe resistência. Uma crise era iminente.
Nos últimos 19 anos nos permitimos a ilusão de que a solução para todos os problemas era o avanço da globalização produtiva-financeira-tecnológica. Cremos despudoradamente nas aberturas de capital de empresas até então sólidas, investimos nossos fundos de pensão e a poupança da faculdade de nossos filhos nas bolsas de valores! Passamos a produzir ainda mais para a exportação e abrimos as portas às multinacionais “amigas”. Com o fim da inflação, aprendemos a amar o sistema bancário, levando o endividamento público e privado a patamares extraordinários. Deixamo-nos levar por números elevados de valor de ações, do PIB, do superávit comercial, do investimento externo direto. Porém, olvidamos uma questão crucial, ainda que simples: o capital a ser remunerado precisa ter uma contrapartida real. Dizendo de forma mais clara, o sistema bancário foi criado originariamente para o transporte de valores. Hoje, ele detém o valor. Assim, mais pessoas queriam ganhar especulando, sem ter que investir e esperar por um ciclo produtivo para ser remunerado. Ao contrário, remuneração instantânea era o mantra em voga. Enquanto o PIB mundial deve estar em torno de 50 trilhões de dólares, o total investido chega a 167 trilhões, mais de três vezes o valor real(OS, edição 364).
As próprias instituições político-econômicas e a teoria da governança financeira internacional precisam ser reformadas. David Swensen, chefe de investimento da Universidade de Yale, disse à revista Newsweek(29 de Dezembro de 2008) que o problema original de confiança no mercado financeiro ainda não foi consertado. “Os mercados de crédito ainda estão fundamentalmente quebrados”, disse o mega investidor.
Há, obviamente, muitas formas de abordar o problema. Mas apenas uma que o resolva e essa nos leva necessariamente a responsabilizar nossos super-egos. olegariodacosta@gmail.com
Fatos importantes da semana
Chávez vence o referendo constitucional e se lança candidato às eleições de 2012; Meu pai fez 80 anos!!! Parabéns, velinho!
A bala que saiu pela culatra
“É impossível evitar guerras. Pode-se, contudo, adiá-las em benefício alheio”, Maquiavel. É assim que “Revolver”, um intrigante filme do diretor Guy Ritchie começa. Na prateleira da loja, você pode não dar muito por esse filme. Mas além de ótimas interpretações(Jason Statham, Ray Liotta, Vincent Pastore), você será surpreendido de uma maneira que nem imagina. O personagem principal, o jogador Jake Green, enfrenta poderosos inimigos depois de sair da prisão. À medida que a trama se desenrola, entretanto, Jake pecebe que o verdadeiro inimigo é o seu ego. Ao dominá-lo, ao invés de ser dominado por ele, Jake vence seu oponente real sem ao menos enfrentá-lo.
Além de uma brilhante amostra da obra de Ritchie(“Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, “Snatch: Porcos e Diamantes”), o filme nos conduz a uma reflexão profunda. Apesar de ter sido lançado em 2005, ele é completamente verossímil com a realidade crítica de 2008 e 2009.
Depois da simbólica queda do Muro de Berlim, o capitalismo estadunidense se consolidou como modelo único. Se já éramos influenciados pelas marcas, valores e interesses das grandes corporações, a partir de tal ponto paramos de opor qualquer resistência. E, dessa forma, paramos também de questionar e aprender sobre nós mesmos. Nos últimos 19 anos, retrocedemos a passos largos no caminho do auto-conhecimento. Logicamente, quando nos perdemos completamente, entramos em crise.
Segundo a Psicanálise, o ego é a parte consciente da psique que media os instintos e as necessidades sociais. Além disso, o ego influencia a percepção e a adaptação à realidade.
À medida que alimentamos ilimitadamente os interesses mais esdrúxulos de nossos egos, mais nosso julgamento racional passa a ser influenciado. Quando nossos instintos mais primitivos de competição são nutridos por ambições sociais, temos um super-ego que passa a consumir nossas vidas e nos transforma em inimigos mútuos. Dizendo de outra forma, quando a sustentação econômica da sociedade passa a depender completamente da ambição desproporcional de enriquecer à custa dos outros, a sociedade entra em colapso.
Essa situação não foi inaugurada há 19 anos, é claro, mas foi desde então que paramos de opor-lhe resistência. Uma crise era iminente.
Nos últimos 19 anos nos permitimos a ilusão de que a solução para todos os problemas era o avanço da globalização produtiva-financeira-tecnológica. Cremos despudoradamente nas aberturas de capital de empresas até então sólidas, investimos nossos fundos de pensão e a poupança da faculdade de nossos filhos nas bolsas de valores! Passamos a produzir ainda mais para a exportação e abrimos as portas às multinacionais “amigas”. Com o fim da inflação, aprendemos a amar o sistema bancário, levando o endividamento público e privado a patamares extraordinários. Deixamo-nos levar por números elevados de valor de ações, do PIB, do superávit comercial, do investimento externo direto. Porém, olvidamos uma questão crucial, ainda que simples: o capital a ser remunerado precisa ter uma contrapartida real. Dizendo de forma mais clara, o sistema bancário foi criado originariamente para o transporte de valores. Hoje, ele detém o valor. Assim, mais pessoas queriam ganhar especulando, sem ter que investir e esperar por um ciclo produtivo para ser remunerado. Ao contrário, remuneração instantânea era o mantra em voga. Enquanto o PIB mundial deve estar em torno de 50 trilhões de dólares, o total investido chega a 167 trilhões, mais de três vezes o valor real(OS, edição 364).
As próprias instituições político-econômicas e a teoria da governança financeira internacional precisam ser reformadas. David Swensen, chefe de investimento da Universidade de Yale, disse à revista Newsweek(29 de Dezembro de 2008) que o problema original de confiança no mercado financeiro ainda não foi consertado. “Os mercados de crédito ainda estão fundamentalmente quebrados”, disse o mega investidor.
Há, obviamente, muitas formas de abordar o problema. Mas apenas uma que o resolva e essa nos leva necessariamente a responsabilizar nossos super-egos. olegariodacosta@gmail.com
Comentários