8 de março - Dia Internacional das Mulheres
Parabéns a todas! Hoje é uma data simbólica, que serve para lembrar que a luta contra as desigualdades é cotidiana. Em média, uma mulher branca recebe 21% a menos do que seu colega branco. Uma mulher negra, então, recebe 61% a menos, em média!
O disk denúncia 180 todo ano registra algo em torno de 20 000 denúncias de violência contra a mulher. É claro que a dimensão do problema é muito maior. Pena que inexistam levantamentos atualizados. A lei Maria da Penha é legislação avançada que prevê a imediata denúncia, a prevenção, a cooperação entre poderes públicos e medidas práticas, tais como proteção policial, encaminhamento para abrigos, manutenção obrigatória do vínculo trabalhista por até seis meses, até mesmo dá a chance de a mulher ficar no imóvel, ao invés do homem. A linha de frente do poder público são as delegacias de atendimento especial à mulher. Em 2007, eram 386 em todo o Brasil. É um número muito pequeno.
Além disso, estima-se que apenas 10% das mulheres violentadas procurem ajuda. E, mesmo nesse caso, muitas pretendem dar apenas um "susto" no cônjuge, incoscientes de seus direitos. Falta também infra-estrutura de assistência(abrigos, principalmente), programas de capacitação específicos(inclusão no mercado de trabalho) e treinamento de funcionários públicos.
Segundo pesquisa por amostragem realizada em 2001, estima-se que entre 50% e 73% das ocorrências tenham acontecido em casa. Deduz-se que os maridos sejam os principais agressores... Triste.
Bem, quero aproveitar para lembrar exemplos de mulheres lutadoras. Não se pode esquecer suas histórias, das famosas e das anônimas, ou perderemos o ânimo. Em 1940, a França foi invadida pelo exército alemão. Logo, sobre as zonas ocupada e não-ocupada, o terror do nazismo prevaleceu. Mas, não completamente. Jovens e velhos, soldados e poetas, pessoas que nunca pensaram em ser revolucionárias, lutaram. Agnès Humbert, historiadora de Arte do Museu do Homem, foi uma dessas pessoas. Agnès escreveu um diário em que conta como ajudou a organizar um grupo de resistência, o que incluía atividades como a publicação de um jornal(Resistènce) e espionagem. Ela foi feita prisioneira pela Gestapo em 41. Ela ficou presa até 1945 e nunca denunciou seus cúmplices.
Em 1946, Agnès publicou seu diário, com o nome de Resistènce. Há uma edição muito bonita da editora Nova Fronteira à venda nas livrarias. Vale a pena a leitura. Agnès foi uma pessoa brilhante, que encontra no sarcasmo e na ironia formas de preservar sua dignidade perante as agressões das "vagens"(soldados alemães) e dos oficiais nazistas. Ela inventa apelidos, faz comentários engraçados. Um leitor leviano pode até não perceber que ela estava presa, passava fome, sentia frio e ficava sem tomar banho.
Uma outra história bacana para esse domingo é a de Rosenstrasse, filme de 2003, lançado recentemente no Brasil. O filme conta a história de alemãs arianas que se casaram com judeus. Maridos e filho(as) judeus eram feito prisioneiros e enviados a campos de trabalho forçado. As mulheres ficavam anos sem saber se o marido estava vivo ou morto. Então, elas se reuniam à frente da prisão e tentavam descubrir por intermédio de algum guarda mais simpático se o marido estava lá ou não. No frio e durante a noite, persistiam elas em uma espera exasperante. Mal agasalhadas e mal nutridas, encontravam a solidariedade feminina e só dispersavam quando soava a sirene de ataque aéreo. No final, por meio da intercessão de um veterano do exército alemão, irmão da protagonista do filme, e do charme que a protagonista disperta no Ministro do Interior, consegue-se a libertação de quase todos.
Infelizmente, o resultado não foi igual para milhões de outras mulheres, judias, arianas, eslavas etc. Seja tiritando de frio na fila por alimentos, seja trabalhando em fábricas no esforço de guerra(por livre e espontânea "pressão"), nas prisões ou na frente delas, as mulheres marcaram a história também no período negro da contra-revolução nazista.
O dia Internacional da mulher nasceu como resultado das mobilizações crescentes de operárias nos EUA e na Europa no início do século passado. Em 1910, por sugestão da socialista alemã Clara Zetkin, a Segunda Internacional oficializou a data. Aparentemente, o Partido Socialista Americano foi o autor de um dia de protesto e comemoração, alguns anos antes, que causara repercussão. Zetkin também sofreria com o nazismo, tendo sido banida da Alemanha em 1933 e seu mandato parlamentar cassado. Ela buscou exílio na URSS, onde faleceu.
Mulheres, famosas e anônimas, operárias e camponesas, brancas e negras devem se unir na luta contra a opressão machista e a exploração capitalista. Mesmo de mulheres ricas, burguesas, algo se pode aprender na luta que marcou o século XX.
Viva às mulheres!
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