Dicas para Economia Clássica

Palavras-chave: cnm 5126, economia classica, ufsc, Smith, David Ricardo, Quesnay, Nildo.

Preâmbulo
Como todo semestre me fazem perguntas sobre a disciplina de Economia Clássica, decidi escrever aqui algumas palavras, tornando-as públicas.

Trata-se de uma disciplina e tanto. O objetivo principal é "compreender o processo de gênese do pensamento econômico e o desenvolvimento de seu método, objeto e aspecto, relativo à produção, distribuição e acumulação até meados do século XIX", programa da disciplina CNM 5126. Além disso, é prevista a compreensão de Smith, Malthus e Ricardo.

O professor Nildo Ouriques é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores do departamento. Ter aula com ele na segunda fase, portanto, é tanto uma oportunidade quanto um desafio. A começar pelo fato de o professor exercer a liberdade da cátedra e não seguir exatamente o programa. Dedica-se a maior parte das aulas para discutir Smith e Ricardo, sim, mas pouco se aborda de Malthus ou de outros pensadores clássicos importantes, como Say ou Stuart Mill.

Explica-se. O professor Nildo Ouriques parte de Aristóteles, célebre pensador e filósofo macedônico que rompeu com a tradição de seu mestre Platão, sendo inclusive o precursor do método científico investigativo. Em seguida, o professor utiliza o texto de Schumpeter sobre os Escolásticos, já que os autores são diversos e, a literatura além de rara é mais difícil de compreender. Depois, é a vez de Mandeville e sua "Fábula das Abelhas". Então, Willian Petty. Depois, Smith e, finalmente, Ricardo.

Não é arbitrária a escolha de tal seqüência, pelo contrário. Trata-se do curso histórico resumido, é claro, da gênese do pensamento marxista, o qual faz parte da tradição da "economia política". Tanto é que um dos principais livros de Marx é chamado de "Contribuição à Crítica da Economia Política". Portanto, ao invés de se propôr a dar uma noção dos principais pensadores de um período, incorrendo no risco da superficialidade, o professor decidiu por seguir um curso histórico definido. Porém, Say e Malthus, por exemplo, ficam por conta do aluno.

Dicas gerais
Antes de dividir esse texto de acordo com o perfil de estudante(acadêmico e empresarial), pretendo dar algumas dicas mais gerais.

1)Método. O estudante que passa pela primeira fase quase sempre ainda não está acostumado com o método de investigação e elaboração(escrita e retórica). Dependendo dos professores da primeira fase, a turma pode ter uma noção maior ou menor. Por exemplo, os alunos que tiveram aula de Introdução à Economia com o Professor Wagner L. Arienti entenderam logo cedo a diferença entre o ensino médio e a graduação. Contudo, é sempre um choque entrar na sala de aula e encontrar aquela figura intrigante de cabelos brancos e ardor juvenil, sempre desafiando-o(a) a dar seu melhor.

Ter método significa, nesse caso, que não vai dar para passar sem ler. Esqueça! É claro que a capacidade de cada um varia(tratarei desse aspecto mais adiante), mas em algum grau você terá que sacrificar seu tempo de lazer para ler. Porém, mais importante do que ler, é pensar. Já tive vários colegas que leram muito mais do que eu, mas falharam na livre-interpretação do que haviam estudado. Método significa se informar, pensar a respeito e exprimir satisfatoriamente seu ponto de vista, provando-o a partir das informações coletadas.

2) Dedicação. Além de ser pré-requisito para Economia Marxista I e Economia Regional e Urbana, ambas obrigatórias, raramente o professor Nildo Ouriques se afasta da disciplina de Economia Clássica. Não adianta se iludir e achar que você se "dará bem" esperando por uma troca de professores. A não ser que você não se importe em esperar a aposentadoria do professor Nildo...(vai demorar!).

Mais importante, o currículo atual do nosso curso se distingue em parte pela Economia Política e Economia Brasileira. Então, ao abdicar dessas matérias, perde-se em termos de aprendizado.

Não conheço ninguém que tire boas notas sem dedicação. Isso se aplica do gênio ao imbecil. Minhas dicas pretendem lhe ajudar a potencializar suas energias, mas não se engane, você vai ter que ralar!

3)Ideologia. Quando entramos no curso, estamos cheios de ardor por expressar nossos pontos de vista e debater. Se esse é sempre um exercício salutar, as conclusões só têm valor quando há originalidade e consistência.

A sabedoria(logos) é o conjunto do conhecimento. Mas o pensamento científico tem sempre por trás uma perspectiva da realidade muito influenciada por interesses(materiais) que adotamos. É importante, portanto, identificar "quais são os meus interesses pessoais" e como "posso me apropriar do conhecimento oferecido pela disciplina Economia Clássica para provar meus pontos de vista".

Tão importante quanto formular seu próprio pensamento é fazê-lo de forma convincente, comunicando-se em linguagem comum. Ou seja, se estamos no curso de Economia, nossa linguagem é a teoria econômica. É necessário, então, identificar quais são os pontos principais da teoria de cada pensador trabalhado na disciplina e, então, partir para uma análise um pouco mais detalhada de contradições do mesmo pensador, assim como de comparações com os acontecimentos e outros pensadores de seu tempo. É através da identificação e decomposição da ideologia alheia que somos capazes de formular nossas próprias idéias, apropriando-nos do logos.

AO ECONOMISTA EMPRESARIAL
Refiro-me aos estudantes que já trabalham, têm pouco tempo livre para estudo ou não pretendem seguir a carreira acadêmica. Se você se "enquadra" nesse caso, você provavelmente estará mais interessado em conseguir o diploma, do que aprofundar seu conhecimento científico. Deve-se respeitar esse interesse, afinal a universidade é pública e cumpre esse papel de fornecer força de trabalho para o capital. Contudo, é interessante para seu próprio futuro profissional que você não seja apenas mais um que saiba como calcular os índices e fazer operações de matemática financeira. Afinal, na era dos softwares os departamentos de planejamento das empresas encolheram bastante. Logo, você precisa ter o domínio suficiente da ciência para cumprir sua função de força de trabalho eficiente(procurar novas formas e usar de sua criatividade). Mas, também, para não correr o risco de ser completamente alienado, você precisa saber como funcionam a produção, a distribuição e a acumulação; que ao ser contratado você está negociando as energias de seu próprio corpo e, portanto, deve sempre lutar por melhores condições para você e seus colegas assalariados.

1)Leitura dinâmica. Você não precisa ler integralmente os capítulos da Riqueza das Nações e, do Tratado de Economia Política e Tributação indicados pelo professor. Os outros textos são menores, dá pra ler, né! Mas esses dois livros, do Smith e o Ricardo, respectivamente, são maiores e mais complexos. Então, não perca seu tempo lendo cada detalhe da metáfora de Smith sobre a fabricação de alfinetes, por exemplo, no capítulo 1 do livro primeiro.

Tenha em mãos o livro e não o xeróx! Caso contrário, você não conseguirá fazer a leitura dinâmica. Faça do índice do livro o seu aliado(ao invés de apenas encará-lo e suspirar como um imbecil). Selecione aquelas páginas que lhe parecem mais valiosas(Preço Nominal, Preço Real, Salários, Lucros, Renda da Terra, a acumulação de capital, o juro, comércio externo e a indústria nacional...)

Sobre os assuntos mais óbvios, como a divisão do trabalho(princ. S.), a teoria do valor trabalho(ambos, mas com diferenças), a teoria das vantagens comparativas(R.) e a renda da terra(R. princ.), tenha os pontos principais na ponta da língua. O professor considera a participação criativa na aula tão importante quanto o desempenho na prova.

Procure comparar os autores, principalmente Smith e Ricardo, nos pontos essenciais. E procure encontrar as contradições de cada um. Ou seja, em que sentido as explicações dadas pelo autor falham na explicação dos problemas que ele trata, ou que ele deixa de tratar mas que são relevantes?

2)Use e abuse de filmes de época. Abaixo segue uma lista de alguns filmes que podem lhe poupar tempo no árduo processo de recompôr o ambiente histórico e intelectual em que viveram os pensadores:
_Cromwell, de 1970.
_Morte ao Rei, 2003.
_Oliver Twist, 2005.

AO ECONOMISTA ACADÊMICO
Refiro-me aos estudantes que não trabalham e possuem muito tempo livre para pesquisar e aprofundar seu conhecimento.

1)Enriqueça sua leitura.
Você pode optar por fazer uma leitura completa ou dinâmica, dependendo de quanto tempo há. Um dos artifícios de que lancei mão para me ajudar quando cursei a disciplina foi de ler outras obras, relacionadas ao tema. Por exemplo, você pode ler A Teoria dos Sentimentos Morais, de Smith, a qual lhe dará uma imagem muito diferente do "economista" que geralmente vemos em A Riqueza das Nações. De fato, essa medida simples, somada a outros artifícios, pode fazer a diferença.

Outros livros interessantes:
_A situação da classe operária na Inglaterra, de Engels.
_As origens da Revolução Industrial, de Hobsbawn.

2)Debata.
Não importa quão inteligente seja o indivíduo, pois muitas mentes integradas pensam melhor do que uma isolada. Portanto, junte-se a alguns colegas interessados e monte um grupo de estudo para a disciplina de Economia Clássica. Assim, não apenas você terá um incentivo para ler, como também terá acesso a um rico espaço de debate e aprendizado.
Além disso, procure ler os capítulos assinalados pelo professor antes de cada aula. Dessa forma, você pode levar suas observações e inclusive ajudar seus colegas a avançar no assunto.
Não fique repetindo o que o texto fala. Arrisque-se. Seja ousado. Mesmo que você erre.

3)Use e abuse de filmes de época. Abaixo segue uma lista de alguns filmes que podem lhe poupar tempo no árduo processo de recompôr o ambiente histórico e intelectual em que viveram os pensadores:
_Cromwell, de 1970.
_Morte ao Rei, 2003.
_Oliver Twist, 2005.
_Brother Against Brother, 2001(não foi lançado no Brasil, compre via internet).
_Roundheads and Cavaliers: The English Civil War(idem)
_Séries da BBC

Se você lê em inglês, visite os sites:
_http://easyweb.easynet.co.uk/~crossby/ECW/
_http://www.open2.net/civilwar/ Esse site possui também alguns vídeos, em inglês.

Assista ao vídeo no You Tube da perfomance ao vivo da banda The Clash, executando a música "Englih Civil War"

Assista ao documentário English Civil War, em Inglês:
_English Civil War, Part1
_English Civil War, Part2

Assista ao excelente documentário Oliver Cromwell and The Civil War, em Inglês:
_Part1
_Part2
_Part3

Assista ao engraçado documentário sobre a Revolução Industrial, em inglês com sotaque italiano...Preste atenção às dramatizações, engraçadas, mas interessantes.
_Part1
_Part2

Assista ao documentário "Coal, Canals and the Industrial Revolution".

Assista ao documentário "The origins of the industrial revolution: Coalbrookedale"

Comentários

Gustavo Pinto de Araújo disse…
Boa iniciativa Olegário! Bom até pra quem já fez a matéria... deu pra lembrar daquele nervosismo na véspera de cada aula!
Mas é sempre delicada fazer essa distinção, e pior uma generalização, entre alunos "acadêmicos" e alunos "empresários". O aluno que entra na universidade deve saber que ela é, supostamente, "a casa do saber" e não meramente qualificação de mão-de-obra.
Roberto Dokonal disse…
Eu concordo e discordo do Gustavo. Essa distinção de alunos não é muito boa, mas o tempo livre de estudo determina muita coisa e a universidade é a casa do saber dirigida a aumentar as qualificações da força de trabalho.
Quanto à forma que vem sendo dada economia clássica, os méritos não são do Nildo, mas do Armando, que foi quem primeiro lecionou a disciplina dessa forma e definiu a bibliografia. E o Armando não se resumia a Smith e Ricardo, muito menos ficava a martelar o antiliberalismo de uns para provar teses nacionalistas obscuras.
Felipe W. Teixeira disse…
Fala Olegário!

Gostei das sugestões sobre metodologia de estudo. Essas coisas muitas vezes ainda não estão bem claras quando começamos a faculdade, tal que esse tipo de "empurrão" ajuda, e muito.

falta de método + preguiça + fator florianópolis = rumo a REC.

Nem vou entrar no mérito de discutir o conteúdo do programa: deixo isso pro Dokonal que, com certeza, obtém muito mais lazer nessa tarefa. :)

Enfim! Parabéns pela iniciativa
e até mais!
Daí Olegário, Achei muito interessante sua iniciativa...
das Dicas da Clássica com O NILDO...


Abraços
Olá, acabei de me cadastrar comu sua "seguidora", adorei´a idéia do blog, é um ótimo aliado para estudar, sou caloura de economia na ufsc.
Abraços

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